segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Vida cruel, essa de Deus

Deus não descansa mais no sétimo dia da semana. Está decretado. Ponto final.

Todo santo domingo ele faz tudo sempre igual: sacode às seis horas da manhã, toma um iogurte grego ao lado dos deuses, tira um cochilo nas nuvens, saboreia a feijoada – levando-se em consideração que o criador é brasileiro, claro - e parte para o trabalho.

Sim, ao trabalho porque depois da refeição acabou o sossego.

Não há tempo para a tradicional caminhada na savana africana, tampouco para verificar as correspondências.

É muito cansativo, de fato, multiplicar-se em 22 em um jogo de futebol. Imagina quando a rodada do campeonato é cheia... Deus se vira em 200? Com margem de erro para o reserva iluminado e para o técnico religioso, claro.

Antes do apito inicial, cada jogador tem seu ritual. O atacante baixinho toca o gramado, faz o sinal da cruz e dá três pulinhos, enquanto o goleiro, debaixo da trave, aponta para o céu com os indicadores.

Durante a peleja, o meia-atacante arrisca um chute de fora da área que tira tinta da trave e olha para o céu, como quem tem o dom de se comunicar diretamente com o Pai para pedir uma “mãozinha”.

Quando a bola descansa no fundo da rede, o atleta exibe a camisa “Deus é fiel”. E como fica o goleiro adversário, a essa altura caído no chão? E o zagueiro, desconcertado com o drible?

Nem todos os desejos, obviamente, podem ser atendidos, dizem. Um time vai sair ganhando e o outro perdendo. Com o empate, uma das equipes sai em vantagem no modorrento campeonato de pontos corridos.

Surge, pois, um impasse: como escolher os vitoriosos? No zerinhôum com São Pedro ou nos critérios de desempate, levando-se em consideração a quantidade de pecados dos envolvidos ao longo da vida?


Vida cruel, essa de Deus.