Vou ao
estádio para torcer. Graças a Deus – e ao meu pai.
Quando
garoto, lembro que meu velho me levava a alguns jogos do nosso time do coração. Lembro que
um dos momentos mais marcantes para mim era a chegada às cadeiras numeradas. O
campo estava ali: imponente, com o gramado “lisinho” e pronto para uma bela
peleja futebolística. A forte iluminação também me encantava, não sei dizer o
porquê, mas encantava. Não recordo de muitos detalhes dos jogos, afinal, tinha
apenas seis anos de idade em 1999, mas de uma coisa tenho certeza: comemorávamos
gols e vitórias. Do nosso time. Dentro de campo. Comemorávamos o futebol, não
por termos chegado vivos em casa..
Anos depois, meu
pai, meu irmão e eu voltamos aos estádios após longo período de afastamento.
Digamos que meu velho tinha enjoado um pouco do esporte e, para mim, isso é uma
heresia, não posso perdoá-lo por isso, não dessa vez. Seguindo o roteiro, nós torcemos,
vibramos nas vitórias, choramos nas derrotas, pulamos e abraçamos
desconhecidos: tudo exatamente do mesmo jeito, nada havia mudado.
Quer dizer,
houve certa mudança. Se antes eu enxergava as torcidas “organizadas” como um
bem ao jogo, com o tempo, passei a questionar diante do aumento desenfreado da
violência nas partes interna e externa do estádio, mas principalmente fora
dele.
O futebol,
melhor esporte já inventado pelo homem, foi deixado de lado pelas organizadas,
pela justiça, pela polícia e pela torcida de um modo geral. Virou pretexto para
centenas - quiçá milhares - de jovens sem perspectiva de futuro que, nas ditas “organizadas”,
têm a oportunidade de ganhar reconhecimento, afirmar-se socialmente. Brigas,
furtos, terror e intimidação identificam e tipificam esses garotos – às vezes,
nem tão garotos assim - e são cenas comuns para quem frequenta as praças
esportivas. Nos dias de jogo, vivemos o cotidiano do medo, afinal, não sabemos o que esperar.
Eles vão ao estádio para brigar. Graças à impunidade.
As famílias temem se divertir. Mas... temer o
divertimento? Por que chegamos a esse ponto? Quantas mães e pais a mais
perderão filhos que vão assistir o time do coração, mas não voltam porque pagam
por confusões que não criaram? O que leva um indivíduo a viajar milhares
quilômetros para brigar em outro estado, em outro país? Torcidas de CRB e Santa Cruz se enfrentaram nas arquibancadas há poucas semanas, torcedor do Náutico foi baleado no último final de semana e, hoje, um garoto de 14 anos foi morto na partida entre San José e Coirinthians, pela Libertadores. Qual o sentido disso tudo? Pergunta rápida, difícil reflexão.
Se estivesse
aos seis anos em 2013, talvez meu pai não me levasse ao estádio. Não
concordaria com a atitude, mas entenderia. O futebol, hoje, é um jogo de campo
minado: um passo errado e boom! Game over. Dançamos. Infelizmente.