segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ninguém nasce ladrão...



Às 21h de um sábado qualquer, duas famílias têm motivo de sobra para comemorar: os novos membros acabaram de nascer.  O comum entre eles? Apenas a hora do nascimento.

Renato desabrochara no Hospital Paulo Wolf ( zona sul). O melhor do estado. É particular.

Brotara através de uma cesariana, gorduchinho e com as bochechas vermelhas. Pesava 4.100 kg.

Ingressará no Colégio Referência e na natação.  Aos 7 anos, descobrirá a paixão pelo tênis. Sonhará em ser profissional, mas como a mãe é contraria à ideia, concentrará as atenções noutra profissão.

Mais tarde, um acidente de bicicleta causa-lhe arranhões nas pernas e uma fratura no braço. Voltará ao hospital e de lá sairá, bonito e bem tratado, diga-se.

Aos 17, resolve o dilema profissional entre “ganhar e ganhar” dinheiro. Desistirá da medicina.
Será jurista.

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João Kleiton, o “venta”, fora cuspido no Hospital Epitáfio Lourenço (zona norte), que tem difícil acesso. Um dos piores. Público.

Fora expulso, por um parto normal, franzino e grande. Pesava 2.500 kg. A mãe é rica em leite. Ufa! Ao menos isso.

Aos 3, tentará, sem sucesso, o ingresso numa Escola Estadual. Um ano mais tarde, será aceito na Escola Municipal João Pedro.

O futebol, sua grande paixão, será deixado de lado, ao menos por enquanto, porque a rua está tomada por traficantes.

Aos 14, com a mãe desempregada, trocará os estudos pelo trabalho no mercadinho.  A grana será curta.

Um ano depois, à noite, sofrerá preconceito enquanto trafega num bairro nobre da capital. Duas facadas atingem-no a perna direita. Ao embate, seu amigo não resistirá

Refletirá pouco depois: sem infância, sem estudo, sem trabalho, sem grana , sem amigo, sem lazer.
Com ócio.

O que falta o futuro reservar a João?

Uma opção: ser ladrão.

Um comentário:

  1. Muitas vezes somos colocados em encruzilhadas, mas no final são as nossas escolham que determinam em quem nos transformamos. O problema é que, em meio ao desespero, nossas decisões nem sempre estão corretas. Uma pena que quem pode fazer algo para mudar isso, não faz. E o ciclo continua... E continuamos a ter casos de contrastes similares. Gostei do texto!

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