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Não pretendo, aqui, falar necessariamente de futebol. Porque
- até os americanos estão descobrindo isso - esse esporte transcende qualquer
limite das quatro linhas. Faz-se necessário, portanto, um aprofundamento em
outras questões – que para você pareçam até mais importantes; para mim?
Talvez... E a explicação já foi descrita.
Ouso falar aqui sobre identidade, embora não seja sociólogo
ou qualquer coisa que o valha. Existe, porém, razão na admiração?
O Uruguai é um país de pouco mais de três milhões de
habitantes, como a minha amada Alagoas. Seus habitantes - ao contrário de nós,
ao que parece - possuem uma ligação muito grande com aquilo que lhes pertence:
na música, no futebol, na literatura ou na política. Valorizam cada pedaço
disso como uma representação do modo de vida: leve e sem pressa. Montevideo não
tem um outback, um parque de diversões de quatro hectares ou um shopping de
cinco que te obrigue a gostar dela. Há, sim, um convite ao contato com o
acolhimento de cada um dos uruguaios - tirando os carneiros podres, claro. Na
verdade, é sobre a receptividade que você vai falar depois para outras pessoas
depois que voltar para casa.
É preciso, pois, resistir. Sempre. À tolice, à arrogância, à
prepotência dos grandes e das potências. Talvez seja por isso que me divirto
quando vejo um garoto de uma cidade pequena como Luis Suárez driblar um, dois,
e meter a bola no fundo das redes, ou até mesmo quando aquele volante
brutamontes baixinho (típico camisa 5 uruguaio) avança sobre o meia habilidoso
do adversário e rouba-lhe a bola em segundos. É, no fundo, a coragem de ousar
de um pequeno país que empina o nariz diante de um grande e quase sempre vence
as batalhas.
Com classe, sem covardia, com teimosia e sem desistir, como
diz um trecho da música “Cielo de um solo color”, da banda No Te Va Gustar: “
Hay algo que sigue vivo/Nos renueva la ilusión/ Y en el último suspiro/Ay,
celeste, regaláme un sol...”
Um último suspiro, como a última batalha de José Artigas ou
a cabeçada de Godín aos 36 do segundo tempo contra a Itália.
Abaixo, música "Cielo de un solo color" cantada pelos uruguaios em Natal, local da partida contra a Itália: