terça-feira, 24 de junho de 2014

O Uruguai vive e pede passagem

Foto: AFP
Pausa nos afazeres do dia. Eu preciso escrever algo sobre a classificação (e recuperação) histórica do Uruguai na Copa do Mundo. Paro na segunda linha e só consigo pensar em frases para o segundo ou terceiro parágrafo. Talvez seja melhor, pois, deixar que mais ideias surjam para o desenrolar. O primeiro não deve importar tanto assim. Vamos pular.

Não pretendo, aqui, falar necessariamente de futebol. Porque - até os americanos estão descobrindo isso - esse esporte transcende qualquer limite das quatro linhas. Faz-se necessário, portanto, um aprofundamento em outras questões – que para você pareçam até mais importantes; para mim? Talvez... E a explicação já foi descrita.

Ouso falar aqui sobre identidade, embora não seja sociólogo ou qualquer coisa que o valha. Existe, porém, razão na admiração?

O Uruguai é um país de pouco mais de três milhões de habitantes, como a minha amada Alagoas. Seus habitantes - ao contrário de nós, ao que parece - possuem uma ligação muito grande com aquilo que lhes pertence: na música, no futebol, na literatura ou na política. Valorizam cada pedaço disso como uma representação do modo de vida: leve e sem pressa. Montevideo não tem um outback, um parque de diversões de quatro hectares ou um shopping de cinco que te obrigue a gostar dela. Há, sim, um convite ao contato com o acolhimento de cada um dos uruguaios - tirando os carneiros podres, claro. Na verdade, é sobre a receptividade que você vai falar depois para outras pessoas depois que voltar para casa.

É preciso, pois, resistir. Sempre. À tolice, à arrogância, à prepotência dos grandes e das potências. Talvez seja por isso que me divirto quando vejo um garoto de uma cidade pequena como Luis Suárez driblar um, dois, e meter a bola no fundo das redes, ou até mesmo quando aquele volante brutamontes baixinho (típico camisa 5 uruguaio) avança sobre o meia habilidoso do adversário e rouba-lhe a bola em segundos. É, no fundo, a coragem de ousar de um pequeno país que empina o nariz diante de um grande e quase sempre vence as batalhas.

Com classe, sem covardia, com teimosia e sem desistir, como diz um trecho da música “Cielo de um solo color”, da banda No Te Va Gustar: “ Hay algo que sigue vivo/Nos renueva la ilusión/ Y en el último suspiro/Ay, celeste, regaláme un sol...”

Um último suspiro, como a última batalha de José Artigas ou a cabeçada de Godín aos 36 do segundo tempo contra a Itália.

Abaixo, música "Cielo de un solo color" cantada pelos uruguaios em Natal, local da partida contra a Itália: 


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