A caminhonete branca repousa sobre a zebra pintada no
asfalto. Não poderia estar ali, penso. Especialmente quando o semáforo está
vermelho, concluo. Ronca baixinho para depois fazer crescer o ruído próprio dos
elegantes. Todos os vidros escuros estão fechados. É noite.
Um homem tenta atravessar a faixa pela frente da lata
imóvel. A Amarok acelera alguns passos. O pedestre fixa os olhos no motorista e
dá meia volta. Está zangado. Abre o sinal, segue o jogo.
A branquinha engole as próprias passadas na avenida. Corre
como quem sofre de diarreia súbita. O semáforo insiste no vermelho. Acelera
mais um pouquinho, vai dar. Passa incólume.
Atrás, em letras garrafais, anuncia: “Fora CorruPTos”.
Então, nesses casos, pergunto: vai sobrar alguém?