sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Questão de safadeza



Um grupo em quantidade razoável, mais ou menos cinco pessoas, encontrava-se próximo à entrada da academia. Um médico - que provavelmente carrega meio século de vida nas costas-, dois personal trainers – um deles acompanhava o doutor nos exercícios – e mais dois alunos jogavam conversa fora sobre vários assuntos. Até que lá estava eu, nos meus trinta segundos de pausa entre um exercício e outro, me dirigindo ao bom copo com água, quando me dei conta que o assunto da vez era algo relacionado à educação. Pela curta distância que me encontrava, era certo que eu seria o sexto integrante daquela conversa.

Pouco tempo depois, tentei fingir que não escutara as seguintes palavras ditas pelo médico:

- Analfabetismo é questão de safadeza mesmo! – referia-se aos pobres, não ao governo.

Foi algo realmente inacreditável; o tom grave na voz do doutor, característica que lhe confere a capacidade de ser escutado por alguém lá na portaria, aliado a um desabafo surreal é capaz de conquistar adeptos pelo tom de firmeza que parece demonstrar. Após alguns minutos, disse algo mais ou menos assim:

- Jogando lixo na praia, tem jeito não, é sem educação mesmo.

No momento, retruquei com alguns argumentos que fizeram o doutor voltar imediatamente ao exercício, como se estivesse arrependido por não ter aquela opinião compartilhada; agora, penso em outros.

Safadeza, no meu conceito, é ficar sentado num sofá confortável com um uísque doze anos e fazer vista grossa a todos os meninos de rua, à favela que não é integrada ao mercado ou até mesmo ao sistema educacional público.

Safadeza é o que esses filhos de autoridades, leiam-se altos cargos do judiciário e da política, fazem pelas boates e pelas ruas de nossa cidade, tratando aqueles que pouco têm como indigentes.

Safadeza talvez seja o filho que tem oportunidade de estudar, mesmo que numa faculdade particular, sair no meio da aula, no meio da semana, pra fazer qualquer atividade que não seja estudar, leia-se tomar cachaça no bar da esquina.

Aí eu pergunto: cadê a educação? O que pode ser entendido como educação?

Nada mais me surpreende. Afinal, é mais fácil culpar os pobres que exigir algo dos governantes. Isso é questão de safadeza.

Mas sinto que será sempre assim...

2 comentários:

  1. aiai, tem gente que fala umas coisas viu.. muito bom o texto!!

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  2. compartilho do mesmo sentimento, mas tento ainda crer que esses pensamentos idiotas dessas pessoas sem um pingo de consciência ainda poderão mudar...mas essa mudança pode ser só uma ilusão minha!

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