quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O céu é de Niemeyer


"A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem", diria o mestre Niemeyer.

Não estudei profundamente suas obras e critérios técnicos, tampouco o conheci.

Mas como filho de arquiteto, sei o tamanho de sua importância. Talvez uma partezinha dela.

Oscar é sui generis. Sim, ele é. E não vai deixar de ser.

Não se conformava com a pobreza desenfreada, com o governo Bush e o mesmo capitalismo selvagem dos Titãs.

Para ele, a vida não é justa - e o que justifica nossa passagem é a solidariedade. Eu diria, se houvesse permissão, que ela não tem nenhuma pretensão de ser.

Neste 05 de dezembro de 2012, acima de tudo, morreu um pouco de cada arquiteto brasileiro.

Portanto, façamos um minuto de silêncio antes de dormir esta noite por alguém que fez 512 anos de Brasil. Custa quase nada.

Porque “A vida é um sopro”.

E depois sonhemos. 



terça-feira, 21 de agosto de 2012

Encontros visuais














Um olhar para o lado como outro qualquer
Eu a vi, Ela me viu também.
Trocamos olhares em 3 segundos
Desviamos
Por dentro sou êxtase puro. Digo aos meus botões:
Que garota bonita!

E Ela talvez não tenha sentido nada. Talvez sim
Não arrisco uma aproximação porque...
... A timidez é a covardia dos galanteadores-visuais
E é a mesma que me cala com argumentos:
Ela é somente sua nesse instante
Por que há de estragar esse momento?

E quando ela parte
Vejo como a vida é engraçada
Quando não há de se esperar nada
Esses encontros visuais aparecem
Acidentais ou propositais?
Encabulado como Ted Mosby, penso:
Será que ela gosta de Engenheiros? Jeneci?
De futebol? De filme? De ler não ficção?

Volto ao mundo real
Também já não estou mais naquele lugar.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ninguém nasce ladrão...



Às 21h de um sábado qualquer, duas famílias têm motivo de sobra para comemorar: os novos membros acabaram de nascer.  O comum entre eles? Apenas a hora do nascimento.

Renato desabrochara no Hospital Paulo Wolf ( zona sul). O melhor do estado. É particular.

Brotara através de uma cesariana, gorduchinho e com as bochechas vermelhas. Pesava 4.100 kg.

Ingressará no Colégio Referência e na natação.  Aos 7 anos, descobrirá a paixão pelo tênis. Sonhará em ser profissional, mas como a mãe é contraria à ideia, concentrará as atenções noutra profissão.

Mais tarde, um acidente de bicicleta causa-lhe arranhões nas pernas e uma fratura no braço. Voltará ao hospital e de lá sairá, bonito e bem tratado, diga-se.

Aos 17, resolve o dilema profissional entre “ganhar e ganhar” dinheiro. Desistirá da medicina.
Será jurista.

**************************************************************************

João Kleiton, o “venta”, fora cuspido no Hospital Epitáfio Lourenço (zona norte), que tem difícil acesso. Um dos piores. Público.

Fora expulso, por um parto normal, franzino e grande. Pesava 2.500 kg. A mãe é rica em leite. Ufa! Ao menos isso.

Aos 3, tentará, sem sucesso, o ingresso numa Escola Estadual. Um ano mais tarde, será aceito na Escola Municipal João Pedro.

O futebol, sua grande paixão, será deixado de lado, ao menos por enquanto, porque a rua está tomada por traficantes.

Aos 14, com a mãe desempregada, trocará os estudos pelo trabalho no mercadinho.  A grana será curta.

Um ano depois, à noite, sofrerá preconceito enquanto trafega num bairro nobre da capital. Duas facadas atingem-no a perna direita. Ao embate, seu amigo não resistirá

Refletirá pouco depois: sem infância, sem estudo, sem trabalho, sem grana , sem amigo, sem lazer.
Com ócio.

O que falta o futuro reservar a João?

Uma opção: ser ladrão.

domingo, 20 de maio de 2012

Um político almoçando com a família


Almoço em família...

Filha pequena: Paiê,

Pai: Oi, meu bebê!

Filha: No colégio dizem que o senhor é ladrão!...

O pai tosse, a mãe derruba o garfo e o filho mais velho abaixa a cabeça.

Pai (assustado): Eu? Qu-quem te disse isso?

Filha: Os meus coleguinhas...

Pai: E por que eu seria la-ladrão?

Filha: Porque os pais deles disseram que tem um montão de menino querendo estudar, mas não tem escola.

O pai virou um tomate, a mãe comeu o abacaxi e o filho mais velho se retirou da mesa.

Pai: Você me ama, filhinha?

Filha: É claro que sim, papai!

Pai: Então acredite em mim, sou inocente.


Há poder no mundo que supere a dignidade?
Há dinheiro que pague sonhos intranquilos?

quinta-feira, 19 de abril de 2012

PM, MP, Justiça e o estupro do futebol alagoano

       De surpresa. Assim foi pega a torcida alagoana com a decisão tomada hoje pela Justiça de proibir a entrada de qualquer material das torcidas organizadas no clássico deste sábado; ou seja, faixas, baterias e "bandeirões" ficarão de fora do espetáculo futebolístico. Quer dizer, haverá espetáculo? Porque se engana quem acha que o futebol se resume às quatro linhas; a rivalidade saudável entre dois clubes é alimentada, sobretudo, pela festa realizada nas arquibancadas do estádio, que parecerá um velório no dia da peleja.

       Para os que ainda não entenderam, o que quero mostrar é que essa decisão acatada é ineficiente e incapaz. Em outras palavras, Justiça, Ministério Público (MP) e Polícia Militar (PM) querem tapar o sol com a peneira, jogar para debaixo do tapete o grande problema que eles não conseguem resolver: punir os vândalos e baderneiros pelo terror que causam nas ruas. Afinal, você, torcedor, já viu alguma briga DENTRO do estádio de 2007 para cá? Só na cabeça dos "normativos de gabinete". E será que os assim apelidados frequentam um estádio de futebol em dias de clássico?

       Vamos analisar a decisão separadamente, primeiro falaremos da Polícia. Sinceramente, se os policiais não se veem capazes de garantir a segurança num evento futebolístico, é melhor entregar, desde já, a cidade aos bandidos. No entanto, não poderíamos esperar algo diferente de uma polícia que não se desafia, não tem estratégia, não investiga, não prende e é pouco cobrada, como diria o jornalista Plínio Fraga.

       Quanto ao Ministério Público, instituição que escolhe a "verdade" que quer enxergar, devemos realizar alguns questionamentos. Primeiro, cadê os promotores quando o torcedor é prejudicado? Nossos dirigentes desobedeceram ao Estatuto do Torcedor no início da competição e nenhuma medida foi tomada – não me digam que não houve acusação, porque eu mesmo mandei um e-mail. Segundo, será que já perceberam que não existe meia-entrada nos jogos do campeonato alagoano? 

       Por fim, a Justiça. Na verdade, que justiça? Nossa Justiça - sim, com J maiúsculo - é a que toma a decisão a menos de 48 horas, sabendo que, desse jeito, não haverá tanto tempo para a defesa se pronunciar. Ah, já ia quase me esquecendo. Vossa Excelência que me perdoe, mas não avistei uma linha sequer que proíba o espancamento gratuito dos torcedores por parte da polícia militar; órgão que, na prática, deveria nos defender.

       Por essas e por outras, a Justiça, MP e PM não podem questionar o porquê da queda de credibilidade que sofrem ano após ano perante o povo brasileiro. Se tem alguma atividade que ainda confere orgulho a nós alagoanos, certamente ela atende pelo nome de futebol. Nossos clubes, CSA e CRB, carregam as cores da bandeira do nosso estado. 

       Por favor, não façam isso, não tentem estuprar o futebol alagoano.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Lourival, qual é o teu mal?

Há quem seja adepto, no mundo do futebol, da seguinte frase: “Jogadores ganham partidas, técnicos ganham campeonatos”. No CSA da “Era Lourival”, deve-se destacar as três vitórias nas três partidas disputadas, ou seja, os 100% de aproveitamento - mesmo que a equipe já estivesse numa crescente visível. Por outro lado, podem-se questionar as improvisações fora de hora e que não surtiram efeito até agora.

É zagueiro de lateral, zagueiro de volante, meia de atacante. Caso fosse falta de opção, haveria ao menos uma justificativa, mas esse não é o problema: jogador há aos montes. 

Com dois laterais esquerdos no elenco, por que deslocar um zagueiro canhoto para a lateral, Lourival? O melhor dos zagueiros, por sinal.

Por que improvisar um zagueiro como 1º volante quando se tem um jogador da posição que vinha atuando bem até ser sacado da equipe titular?

Como se explica um meia na função de atacante com as boas opções de ataque que o time dispõe?

Afinal, Lourival, qual é o teu mal? Quer brincar de professor Pardal? O último Manager Gardenal que passou por aqui levou um ponto final!

Assim, rodada a rodada, enquanto os jogadores seguem ganhando, o torcedor só tem uma certeza: faz o simples que tu leva o campeonato!

sábado, 28 de janeiro de 2012

Djokovic por ele mesmo

     

        Finalzinho da partida de uma decisão de campeonato; o jovem atacante vira o jogo com dificuldade para o lateral direito e corre em direção à área. Posiciona-se atrás do zagueiro rival dorminhoco, esperando apenas a bola chegar. No meio do caminho, o zagueirão resvala a bola e só resta ao jovem atacante, que não fazia uma boa partida, tentar um carrinho. Executa. A gorduchinha, então, bate na sua coxa direita e vai, lentamente, entrando no fundo do gol adversário. A torcida grita "Golll!" nas bancadas.

         Quando Novak Djokovic entrou em quadra para a semi-final do Australian Open 2012, eu, em minha casa, esperava mais uma exibição espetacular do sérvio, que há muito me encanta com seu tênis e carisma únicos. Queria rever aquele tenista que foi arrasador nos momentos decisivos de 2011; hoje, porém, em quadra, um súbito apagão. Vi um Djokovic fisicamente impecável, mas tecnicamente sofrível.

     Que teve rapidamente o serviço quebrado; que errava bolas na direita; que resmungava com as marcações da arbitragem e dos fiscais; que errava bolas na esquerda; que xingava a si mesmo em diferentes línguas. Que levantava bravamente as duas mãos para cima, como quem procura alguma explicação. Aí, no ponto seguinte, errava um voleio; e olhava fixamente para seu staff, incluindo a sua noiva, com olhos furiosos, incrédulo com a partida que fazia. Um Novak que, a cada ponto, perdia a confiança nos próprios golpes.
     
        No meu sofá, eu não acreditava naquilo que estava assistindo. Com absoluta certeza, essa foi a primeira vez que senti o sérvio tão abatido tecnicamente. Mas, ainda no confortável assento, vi um tenista brigando como sempre, o bom e velho guerreiro dentro da quadra.
   
     Um Djoko extremamente forte psicologicamente e fisicamente que, apesar dos próprios erros não forçados, corria lado a lado da quadra, jogada a jogada; até mesmo se aproximamdo e distanciando da rede rapidamente.
     
        E então, com uns lapsos do excelente Djokovic de outrora, aliava seu físico à técnica para ganhar o ponto. E vibrava; e sacudia seu staff; e bola aqui, e bola ali; e ponto; e match-point. E DJOKOVIC!
       
         Quanto ao desabamento em quadra após a vitória, os amantes do tênis podem ter certeza de que esse é o Nole que nós conhecemos:
       
         Tenista incomum que nunca deixará de ser o número um, mesmo que o dia não esteja nada favorável, como o daquele jovem atacante.