domingo, 10 de maio de 2015

Dia de quem trabalha a dor

Sexta, primeiro de maio, dia aberto, sem pancadas de chuva. O sol marca posição sobre os prédios. É um dia para se divertir, dizem especialistas - e chefes de família. Acorda a criança, vamos à praia. Café da manhã ok, roupa ok, e toalha de banho idem. Destino: praia de veraneio.

O carro, apressado, engole passos sobre a pista. O som está sintonizado na rádio mais erudita possível. Talvez tenha tocado Djavan, Tribalistas ou músicos da cena local. Todos chegam em vinte minutos, estourando vinte e cinco. Para a felicidade doce, ingênua e correta da menina, que adora subir castelos na areia e tomar uns caldos.

- Abre a mala porque tem muita coisa. Lúcia, os brinquedos estão lá, vamos pegá-los – diz a senhora.

Família bem acomodada, mesa à frente do mar. Prontos para o pedido. O sinal com as mãos chama o garçom. Tudo normal, não tivesse o atendente um metro e meio. Um metro e meio e um rosto liso, sem as menores intempéries provocadas pelo correr dos dias e noites. Sem qualquer sinal de barba ou bigode, voz aguda.

Cara de quem, obviamente, não brinca em serviço em seu dia de trabalhar a dor. 

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