Um (possível) diálogo:
Político: Cidadão, conto com o seu apoio nas eleições que se avizinham.
Cidadão: Assim como todos os outros. E o que o senhor anda prometendo?
Político: Isso é fácil. Todo mundo sabe que a saúde, a educação e a segurança estão um caos. Prometo fazer todos os meus esforços para mudar esse quadro.
Cidadão: Falando em violência, o senhor sabe que o nosso estado é o campeão em homicídios?
Político: É claro que sei, acompanho pelos jornais. Vamos trabalhar forte pra virar esse jogo.
Cidadão: Você sabia que nosso estado saltou de 21,8 assassinatos por 100 mil, em 1998, para 70,2 em 2010? Um recorde nacional histórico!
Político: Estou sabendo, sim. É um verdadeiro “estado de calamidade”.
Cidadão: Por que esse aumento, candidato?
Político: Tenho fortes suspeitas de que o aumento do consumo do crack também aumentou o número de homicídios. Os viciados matam para nutrir o vício.
Cidadão: Mas que argumentos tolos! O senhor quer dizer então que a polícia trabalha muito bem e que a Justiça condena os culpados?
Político: Errr...
Político: Você está se esquecendo que o Fernandinho Beira-Mar já morou certo tempo por aqui e, com absoluta certeza, foram seus capangas que disseminaram o crack pelos pequenos traficantes.
Cidadão: Eu quero provas!
Político: Errrr... De fato, aumentou. ( Nervosamente falando)
Cidadão: Vivemos num estado controlado pela elite agrária e apenas há o interesse de manter um sistema arcaico de produção e dominação. Qual o interesse em mudar a realidade, erradicar o analfabetismo, a pobreza extrema e, conseqüentemente, a pública e notória violência?
Político: ( Mudo)
Cidadão: Você não me responde? Não tem alternativas? Se a polícia e política não têm alternativas, o que posso esperar? Esperar dos jovens? Ah, estes escolhem em grande maioria o curso de direito para assegurar um emprego público. Ninguém quer lutar para mudar a triste situação.
Político: Melhor pra mim.
Cidadão: Qual o motivo pra tanta violência em Alagoas , então?
Político: Ora, outro motivo, além do crack, é o salário que os policiais ganham.
Cidadão: Salário? Não creio que o problema seja esse, tampouco verbas. Os salários de início de carreira de um policial militar ou de um civil não estão entre os melhores da categoria nacional, mas também não se incluem nos piores.
Cidadão: Falando em polícia, senhor candidato, preciso ressaltar que essa não tem estratégia, não investiga, não prende, é pouco cobrada e fiscalizada.
Político: (Pálido)
Cidadão: Mas é fácil mascarar a realidade para os turistas, não é? Policiamento na orla serve de máscara. Quem não conhece a terra no dia-a-dia acha que vivemos quase num paraíso.
Político: Eles merecem! Movimentam a economia ao visitar nossas belas praias.
Cidadão: E nós, alagoanos, que moramos e sentimos na pele todo o fervor da violência? Os bairros pobres que possuem grande índice...
Político: Os bairros pobres? Ah, esses são importantes. A pobreza e pouca qualidade da educação da população vão me eleger próximo ano, meu caro eleitor. Umas promessas aqui, uns trocados ali e pronto.
Cidadão: Err...
Político: Entendeu bem, mas agora eu preciso ir. Um assalto à dignidade me espera.
Muito bom, cara. Igual ao que ocorre, infelizmente.
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