sábado, 13 de agosto de 2011

Língua Portuguesa, disciplina autoritária nas escolas.




Sábio foi o dia no qual tive a oportunidade de entender um pouco mais sobre o funcionamento do preconceito lingüístico. Solidificados em idéias e conceitos arcaicos e ultrapassados, inúmeros “estudiosos” da língua promovem um festival de preconceito técnico e social. Lingüistas são desprezados pelos grandes meios de comunicação e tudo isso faz com que o grave problema pareça, em certos casos, invisível. Sábio foi o dia da minha oportunidade.

Volta e meia me pergunto sobre o atual sistema de ensino de português na grande maioria das escolas brasileiras. Professores insistem em repassar aos alunos conteúdos que existem há mais de dois mil anos (!) e com pouca mudança, desprezando as descobertas dos lingüistas que desmistificam certos mitos. Ora, a história, a biologia, a física e outras ciências mudam, por que o português não? Caso algum professor de biologia chegasse à sala de aula e falasse que as moscas surgem das fezes ou um professor de geografia afirmando que a terra está no centro do universo e que o sol e todos os outros planetas giram a seu redor, todos contestariam e negariam os seus professores. No português, nada é questionado.

A situação se torna pior quando os professores de português forçam os alunos a decorar definições e classificações segundo a morfossintática e aprender que uma oração é reduzida de gerúndio. Façam-me o favor! Isso faz com que o aluno crie o mito de que “português é muito difícil” e acaba por amedrontá-lo. Esses conteúdos devem ser exigidos para aqueles que querem ser professores da língua portuguesa e não para quem vai ser um usuário da língua. Sendo assim, um professor da auto-escola teria que ensinar a montagem de peça por peça de um carro para o aluno. O aluno se tornaria, no máximo, um mecânico e não um motorista.

Eles exigem ainda dos alunos o seguimento correto e fiel do que está escrito na gramática, assegurando que é o português usado no Brasil. Será mesmo? Será que as pessoas que detém a “norma culta” falam tudo nos conformes? É óbvio que não. O grande objetivo, na verdade, é impor aos brasileiros as variedades urbanas de prestígio e considerar toda a maioria de um país como “falantes errados” da língua. Outra inverdade: deve-se falar de tal modo porque a gramática diz que é assim. Quanta bobagem! Esquecem-se esses que a gramática é apenas um componente da língua e, por nenhuma razão, a fala deve ser subjugada à escrita.

Portanto, a melhor maneira de ensinar português para os alunos é estimular a leitura e a escrita. Ler e escrever, ler e escrever. Deve ser ensinada a “norma padrão” – óbvio-, mas devemos ter a noção exata de que não existe “erro de português”. Existe “erro de ortografia”, por exemplo. Ter em mente a idéia de que toda língua varia, portanto, o que é “certo” hoje pode se tornar “errado” amanhã e vice-versa.

Por fim – e muito importante -, lembrar de respeitar as variedades lingüísticas de toda e qualquer pessoa, pois a língua é um forte componente do ser humano e desrespeitá-la é desrespeitar a pessoa. Acrescentar no ensino, não suprimir. Ler e escrever, ler e escrever os mais variados textos e fazer com que os alunos assumam posturas críticas de suas produções.



Um pouco mais:

Rotacismo: A transformação do L em R nos encontros consonantais como em Cráudia, chicrete, praca, broco e pranta é fortemente considerada como "atraso mental" das pessoas que falam assim. Na verdade, trata-se de um fenômeno fonético que contribuiu para a formação da própria norma-padrão da língua portuguesa. Consultando a história, concluimos que o atual L nessas palavras surgiu de um antigo R nas mesmas palavras, geralmente do latim. Ou seja, toda a população romana da Lusitânia também tinha o "atraso mental"?

Palatalização: O elemento provocador desse fenômeno é a letra [i]. No sudeste brasileiro, a consoante T é pronunciada como "tch" toda vez que é seguida de um [i]. Exemplos: Tchitchia quando a palavra é escrita titia. No nordeste brasileiro, um falante fala oitchu quando a palavra escrita é oito. Os dois exemplos compõem o mesmo fênômeno, mas, devido a um preconceito regional, o falante do nordeste é tido como "ridículo", " muito engraçado" ou "errado". Quanto ao capixaba, carioca ou mineiro, a naturalidade se faz presente.

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