Deus não
descansa mais no sétimo dia da semana. Está decretado. Ponto final.
Todo santo
domingo ele faz tudo sempre igual: sacode às seis horas da manhã, toma um
iogurte grego ao lado dos deuses, tira um cochilo nas nuvens, saboreia a
feijoada – levando-se em consideração que o criador é brasileiro, claro - e
parte para o trabalho.
Sim, ao
trabalho porque depois da refeição acabou o sossego.
Não há tempo
para a tradicional caminhada na savana africana, tampouco para verificar as
correspondências.
É muito cansativo,
de fato, multiplicar-se em 22 em um jogo de futebol. Imagina quando a rodada do
campeonato é cheia... Deus se vira em 200? Com margem de erro para o reserva
iluminado e para o técnico religioso, claro.
Antes do
apito inicial, cada jogador tem seu ritual. O atacante baixinho toca o gramado,
faz o sinal da cruz e dá três pulinhos, enquanto o goleiro, debaixo da trave,
aponta para o céu com os indicadores.
Durante a
peleja, o meia-atacante arrisca um chute de fora da área que tira tinta da
trave e olha para o céu, como quem tem o dom de se comunicar diretamente com o
Pai para pedir uma “mãozinha”.
Quando a bola
descansa no fundo da rede, o atleta exibe a camisa “Deus é fiel”. E como fica o
goleiro adversário, a essa altura caído no chão? E o zagueiro, desconcertado
com o drible?
Nem todos os
desejos, obviamente, podem ser atendidos, dizem. Um time vai sair ganhando e o
outro perdendo. Com o empate, uma das equipes sai em vantagem no modorrento
campeonato de pontos corridos.
Surge, pois,
um impasse: como escolher os vitoriosos? No zerinhôum com São Pedro ou nos
critérios de desempate, levando-se em consideração a quantidade de pecados dos envolvidos ao longo da vida?
Vida cruel,
essa de Deus.
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