Corria tranquilamente pela rambla de Pocitos ao som de Marcelo Jeneci - ou seria Los Hermanos? Jorge Ben sei que não era porque já escutei outras vezes e hoje não queria. "Olha, que monumento bonito", penso. Paro para fazer umas fotos rápidas e me viro para retomar o exercício, quando um brasileiro no alto de seus 55 anos me para:
- Você é de Itatiba?
- Não, sou de Maceió.
- Ah, eu vi o que tava escrito no escudo da camisa do seu clube e pensei: é brasileiro.
- Hahaha, sim. Vocês estão passeando aqui? - pergunto aos quatro, já que estavam em dois casais.
- Sim, vamos ficar por quatro dias. Quê que tem dxi bom por aqui? Acabamos de chegar e viemos à praia.
- Vocês estão no melhor bairro, há muita opção de restaurantes....
- Entendi. E onde que compra a marijuana?
- Hahaha, não sei, eu não fumo - respondi, surpreso, porque eram dois homens no alto dos seus 55 anos acompanhados pelas senhoras, que não esboçaram reação.
O outro, mais tímido, solta:
- Eu não sei onde comprar nem no Brasil, imagina aqui.
- Hahaha, pois é. Bem, então vou indo. Boa estadia para vocês e que aproveitem muito.
- Obrigado, bons estudos.
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Já tou cansado, mas vou colocar "Temporal" do Jeneci para que eu não relaxe e vá correndo até o fim. O telefone toca. Meu amigo diz que o Mathias (uruguaio) entrou para jogar no campinho de areia a convite de outros uruguaios. Acelero os passos e chego um pouco já cansado. Entro, enfim, no "beach soccer" e começo a participar do meu primeiro racha em solo uruguaio. Quem diria??
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A fome é inevitável após o rachinha na areia. Na fila do pão, avisto um brasileiro com a camisa do Bahia selecionando algumas cervejas no freezer, provavelmente estava fazendo algum churrasco com outros amigos brasileiros. Gentil, disse que posso passar pela casa deles a qualquer momento.
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
quinta-feira, 21 de agosto de 2014
Um mergulho na história
~ No buzão ~
- Já conhece essa região aqui? – pergunta no desenrolar da
nossa conversa o simpático senhor uruguaio, no meu trajeto rumo ao Gran Parque
Central, estádio do Nacional.
- Não, ainda não – respondo.
- Aqui é o zoológico. Você vai descer uma parada após a minha
e vai andar para a esquerda. Mas é só seguir esses torcedores que estão aqui no
ônibus.
- Sim, sim, é só fazer isso mesmo.
- Estamos, agora, na Ramón Anador. Você está gostando da
cidade?
- Sim, estou gostando muito da tranquilidade, da segurança e
das pessoas.
- Chegamos na Avenida do Centenário. Essa aí (aponta para a
direita) é a Avenida Itália. Agora estamos na Garibaldi. Eu vou descer e você
desce no próximo, é só seguir os torcedores que estão aqui no ônibus. Foi um
prazer.
- Um prazer.
Desço do ônibus e caminho mais ou menos 1 km. A parte de
trás do estádio, que dá acesso à arquibancada do “sol na cara”, foge do padrão
FIFA: não tem glamour e se assemelha a muitos estádios brasileiros. Assim me
parece bom porque demonstra conservar a riquíssima história da cancha do
Nacional, palco de episódios como o primeiro jogo de uma Copa do Mundo e um
duelo de pistola entre o ex-presidente José Battle e um co-diretor do “El
País”, Washington Beltrán. Pior para o jornalista. Mas isso é assunto para
outros textos.
Cheguei ao estádio com apenas 30 minutos para comprar
ingresso e encarar a fila. Não havia ninguém na bilheteria, mas o caos estava
instalado no acesso à arquibancada. Brasileiro que sou, estava agoniado porque
pensava que perderia o começo do jogo - e um simpático carrinho me chamou atenção por um instante (foto). Eles, no entanto, calmíssimos. Pisei na
arquibancada de cimento a tempo de ouvir a torcida saudando o lateral Fucile,
que retornou ao clube após longo período na Europa.
Bola vai, bola vem, chutão, jogo pelo alto, Nacional sem
conseguir tocar a bola. Goleou porque aproveitou bem o que criou, mas não
apresentou um primor técnico. O Defensor, coitado, esteve indefeso. Seu trio
maravilha – Nicolás Oliveira, Felipe Gedoz (brasileiro, diga-se) e De
Arrascaeta – não funcionou e a tarde foi pro beleléu: 5 gols na sacola,
anotando apenas dois na meta de Munúa.
Papo vai, papo vem, uruguaios simpáticos me viam com a
bandeira do Brasil e logo perguntavam se eu era torcedor do Grêmio. Conversei
com alguns, todos simpáticos, até esbarrar em um jovem de rastafári e uma ruiva
tingida que desenvolveram o “antibrasilismo” após a Copa do Mundo. Sim, mesmo
que em pouco número, há gente por aqui que crê fielmente que tivemos influência
na punição de Suárez. Uma bobagem.
Eles me pediram para guardar a bandeira porque soava como
uma ofensa. Ok, embrulho e guardo, quando um amigo do rasta chega e pede para
eu seguir com ela e que seu companheiro estava equivocado. Ele me pareceu ser
boa pessoa e conversamos um pouco sobre Brasil, Uruguai e futebol. Até ele
deixar um dos últimos recados: “Há duas coisas que você necessita saber:
Nacional é o maior e melhor e os carboneros (torcedores do Peñarol) são uns
putos, mas sem violência, claro”.
Ah, essa coisa chamada rivalidade que move a engrenagem.
Cantina do Gran Parque Central |
domingo, 10 de agosto de 2014
Pai
Pai, tá tudo bem por aqui.
Pode avisar a mainha que já comi, lavei as camisas e cuecas.
Acho que isso já responde o interrogatório diário. Pelo que conheço, ela vai
ficar com um pouco de ciúme após ler esse texto, mas eu peço a compreensão
porque, afinal, estamos longe. Não sou muito de demonstrar o que sinto nas
redes sociais, mas essa tal de saudade às vezes aperta e é uma coisa boa de
sentir.
É o primeiro dia dos pais que passo longe de você - seu lunga
alagoano, como você mesmo escreve nos e-mails - e isso merece algumas linhas.
Tá tudo caminhando bem por aqui. Hoje, aliás, me lembrei de
um dia dos pais especial, lá em 2009. Não fomos almoçar fora ou fazer hora na
casa de algum parente. Nós viajamos, lembra? Com certeza você não lembra que
empatamos e talvez recorde que levamos 3 mil pessoas para Pernambuco. Eu, você
e o Felipe encaramos a estrada para acompanhar nosso time, algo que ainda nos
rende boas conversas e nos mantêm unidos.
O voo rasteiro foi incrível, das coisas que vão ficar para
sempre na minha memória, porque deve ter sido o último jogo que assistimos
juntos. Os três. Resolvi, cinco anos depois, caminhar na orla com a camisa do
nosso time, uma forma de homenagear você, pelo pai que continua sendo, e meu
irmão, pelo pai que foi e sempre será para nós e nossa querida Maria Clara.
Alguns uruguaios ficavam olhando, tentando adivinhar o nosso time. Um deles
pode até saber, mas jamais terá a noção do que ele representa para nós. Na verdade,
acho que você gosta mais do nosso clube do que o jogo em si. Tou errado?
No mais, tá tudo fluindo bem. Os uruguaios são pessoas muito
boas, que levam a vida de uma forma simples. É comum observar, na rambla,
jovens casais tomando mate nos bancos, velhos casais passeando sem compromisso
e hora para chegar, afastando a chatice da rotina. Os cachorros aqui geralmente
andam sem coleira, prova de que são educados ao mais simples comando dos donos. Assisti, também,
a uma pelada de pivetes aqui na orla. Jogo ruim, truncado, mas foi bom para
passar o tempo.
Você, aliás, veio para cá duas vezes e não conheceu a orla. Perdeu
muita coisa, eu diria. A água mansa do rio de la plata passa uma tranquilidade
boa. Ela deve reforçar aquela sua ideia – não sei se foi na resenha – de se aposentar
e vir morar aqui.
Às vezes o frio aperta, principalmente de madrugada, mas te
confesso que já estou adaptado, consigo até ir ao mercadinho da esquina sem
casaco durante o dia. Mas não tem problema. Depois de agosto, chega setembro e
o calor reaparece um pouco. Depois outubro, novembro e, por fim, dezembro,
quando estarei de volta. Daqui a pouco passa.
Um abraço e feliz dia dos pais.
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Vitrola Montevideo (I)
Sucessos antigos predominam no repertório dos boliches, que nada mais são que as nossas populares discotecas, digo, baladas.
Se o disco muda e várias canções tocaram ao longo da noite, por que, então, "play that funky music" chamou minha atenção?
A resposta estava lá, naquele sábado (sexta?) passado, no Bluzz Live. Os jovens gritavam e mexiam o corpo para um lado e para o outro de uma forma diferente logo no início da música, pelo menos foi o que eu captei. Para nós, um jeito até engraçado de dançar, já que poucos lugares no Brasil tocam músicas das décadas de 70 e 80, infelizmente.
O Bluzz Live, por sinal, é um barzinho/boate muito simpático na Ciudad Vieja. bairro histórico que dispensa explicações, é só fazer a tradução livre.
Banda Wild Cherry, cujo maior hit foi justamente a música do post |
Mudança temporária
Como alguns devem saber, estou em intercâmbio no Uruguai. As coisas vão bem por aqui e a criatividade acompanha o curso do rio de la plata, que separa Montevidéu de Buenos Aires. Para evitar a criação de um outro blog - que sumiria do mapa após os quatro meses e meio em terras charruas - vou seguir alimentando este aqui.
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