quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Um mergulho na história
















~ No buzão ~

- Já conhece essa região aqui? – pergunta no desenrolar da nossa conversa o simpático senhor uruguaio, no meu trajeto rumo ao Gran Parque Central, estádio do Nacional. 

- Não, ainda não – respondo.

- Aqui é o zoológico. Você vai descer uma parada após a minha e vai andar para a esquerda. Mas é só seguir esses torcedores que estão aqui no ônibus.

- Sim, sim, é só fazer isso mesmo.

- Estamos, agora, na Ramón Anador. Você está gostando da cidade?

- Sim, estou gostando muito da tranquilidade, da segurança e das pessoas.

- Chegamos na Avenida do Centenário. Essa aí (aponta para a direita) é a Avenida Itália. Agora estamos na Garibaldi. Eu vou descer e você desce no próximo, é só seguir os torcedores que estão aqui no ônibus. Foi um prazer.

- Um prazer.

Desço do ônibus e caminho mais ou menos 1 km. A parte de trás do estádio, que dá acesso à arquibancada do “sol na cara”, foge do padrão FIFA: não tem glamour e se assemelha a muitos estádios brasileiros. Assim me parece bom porque demonstra conservar a riquíssima história da cancha do Nacional, palco de episódios como o primeiro jogo de uma Copa do Mundo e um duelo de pistola entre o ex-presidente José Battle e um co-diretor do “El País”, Washington Beltrán. Pior para o jornalista. Mas isso é assunto para outros textos.

Cheguei ao estádio com apenas 30 minutos para comprar ingresso e encarar a fila. Não havia ninguém na bilheteria, mas o caos estava instalado no acesso à arquibancada. Brasileiro que sou, estava agoniado porque pensava que perderia o começo do jogo - e um simpático carrinho me chamou atenção por um instante (foto). Eles, no entanto, calmíssimos. Pisei na arquibancada de cimento a tempo de ouvir a torcida saudando o lateral Fucile, que retornou ao clube após longo período na Europa.

Bola vai, bola vem, chutão, jogo pelo alto, Nacional sem conseguir tocar a bola. Goleou porque aproveitou bem o que criou, mas não apresentou um primor técnico. O Defensor, coitado, esteve indefeso. Seu trio maravilha – Nicolás Oliveira, Felipe Gedoz (brasileiro, diga-se) e De Arrascaeta – não funcionou e a tarde foi pro beleléu: 5 gols na sacola, anotando apenas dois na meta de Munúa.

Papo vai, papo vem, uruguaios simpáticos me viam com a bandeira do Brasil e logo perguntavam se eu era torcedor do Grêmio. Conversei com alguns, todos simpáticos, até esbarrar em um jovem de rastafári e uma ruiva tingida que desenvolveram o “antibrasilismo” após a Copa do Mundo. Sim, mesmo que em pouco número, há gente por aqui que crê fielmente que tivemos influência na punição de Suárez. Uma bobagem.

Eles me pediram para guardar a bandeira porque soava como uma ofensa. Ok, embrulho e guardo, quando um amigo do rasta chega e pede para eu seguir com ela e que seu companheiro estava equivocado. Ele me pareceu ser boa pessoa e conversamos um pouco sobre Brasil, Uruguai e futebol. Até ele deixar um dos últimos recados: “Há duas coisas que você necessita saber: Nacional é o maior e melhor e os carboneros (torcedores do Peñarol) são uns putos, mas sem violência, claro”.

Ah, essa coisa chamada rivalidade que move a engrenagem.

Cantina do Gran Parque Central

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