~ No buzão ~
- Já conhece essa região aqui? – pergunta no desenrolar da
nossa conversa o simpático senhor uruguaio, no meu trajeto rumo ao Gran Parque
Central, estádio do Nacional.
- Não, ainda não – respondo.
- Aqui é o zoológico. Você vai descer uma parada após a minha
e vai andar para a esquerda. Mas é só seguir esses torcedores que estão aqui no
ônibus.
- Sim, sim, é só fazer isso mesmo.
- Estamos, agora, na Ramón Anador. Você está gostando da
cidade?
- Sim, estou gostando muito da tranquilidade, da segurança e
das pessoas.
- Chegamos na Avenida do Centenário. Essa aí (aponta para a
direita) é a Avenida Itália. Agora estamos na Garibaldi. Eu vou descer e você
desce no próximo, é só seguir os torcedores que estão aqui no ônibus. Foi um
prazer.
- Um prazer.
Desço do ônibus e caminho mais ou menos 1 km. A parte de
trás do estádio, que dá acesso à arquibancada do “sol na cara”, foge do padrão
FIFA: não tem glamour e se assemelha a muitos estádios brasileiros. Assim me
parece bom porque demonstra conservar a riquíssima história da cancha do
Nacional, palco de episódios como o primeiro jogo de uma Copa do Mundo e um
duelo de pistola entre o ex-presidente José Battle e um co-diretor do “El
País”, Washington Beltrán. Pior para o jornalista. Mas isso é assunto para
outros textos.
Cheguei ao estádio com apenas 30 minutos para comprar
ingresso e encarar a fila. Não havia ninguém na bilheteria, mas o caos estava
instalado no acesso à arquibancada. Brasileiro que sou, estava agoniado porque
pensava que perderia o começo do jogo - e um simpático carrinho me chamou atenção por um instante (foto). Eles, no entanto, calmíssimos. Pisei na
arquibancada de cimento a tempo de ouvir a torcida saudando o lateral Fucile,
que retornou ao clube após longo período na Europa.
Bola vai, bola vem, chutão, jogo pelo alto, Nacional sem
conseguir tocar a bola. Goleou porque aproveitou bem o que criou, mas não
apresentou um primor técnico. O Defensor, coitado, esteve indefeso. Seu trio
maravilha – Nicolás Oliveira, Felipe Gedoz (brasileiro, diga-se) e De
Arrascaeta – não funcionou e a tarde foi pro beleléu: 5 gols na sacola,
anotando apenas dois na meta de Munúa.
Papo vai, papo vem, uruguaios simpáticos me viam com a
bandeira do Brasil e logo perguntavam se eu era torcedor do Grêmio. Conversei
com alguns, todos simpáticos, até esbarrar em um jovem de rastafári e uma ruiva
tingida que desenvolveram o “antibrasilismo” após a Copa do Mundo. Sim, mesmo
que em pouco número, há gente por aqui que crê fielmente que tivemos influência
na punição de Suárez. Uma bobagem.
Eles me pediram para guardar a bandeira porque soava como
uma ofensa. Ok, embrulho e guardo, quando um amigo do rasta chega e pede para
eu seguir com ela e que seu companheiro estava equivocado. Ele me pareceu ser
boa pessoa e conversamos um pouco sobre Brasil, Uruguai e futebol. Até ele
deixar um dos últimos recados: “Há duas coisas que você necessita saber:
Nacional é o maior e melhor e os carboneros (torcedores do Peñarol) são uns
putos, mas sem violência, claro”.
Ah, essa coisa chamada rivalidade que move a engrenagem.
Cantina do Gran Parque Central |
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